Pequenos sinais na rede



Comecei a escrever este blogue há seis anos. Durante alguns dias do mês de Dezembro de 2003 – fica a revelação nunca antes partilhada – esta página ostentava o título de (tchan tchan) O cão com três patas. Pela simples razão de partilhar parte da minha vida com um cão com três patas, neste preciso momento deitado atrás de mim de barriga cheia junto ao aquecedor.
Ditou o bom senso que rapidamente adoptasse para o blogue o nome mais respeitável de A Barriga de um Arquitecto e assim desse início a uma viagem inesperada. Agora navegando para lá do milhão de visitantes, marca ultrapassada ainda no presente mês, fico a reflectir sobre o percurso que conduziu até aqui.
Alimentei sobre o fazer do blogue, ao longo do tempo, expectativas muito variadas. Da expressão pessoal ao desejo de contribuir para um qualquer debate colectivo, da vontade de aumentar audiência, de mudar tudo, fechar o blogue, começar de novo. Tenho agora sobre tudo isto uma postura bem mais prosaica, tão só se me diverte ainda a experiência.
Verdade seja dita, penso agora que me diverti apenas naquele primeiro ano de 2004. E penso se voltará a existir na rede aquela liberdade de partilhar sem expectativas, sem leitores, lançando sinais na inter-rede em busca de um mágico retorno? De uma miragem.
Os blogues são como as pessoas. Com hesitações e erros. Com a fragilidade do que é e do que um dia deixará de ser. Nada mais do que o presente, escrever um blogue pessoal só faz sentido como se em redor de um pequeno emissor de ondas de rádio. Algures, talvez alguém esteja a escutar. Algures, um único contacto humano. Tudo o mais uma ilusão.
Penso agora que talvez me apeteça começar a escrever aquele outro blogue. Talvez haja ainda espaço para o cão com três patas. Talvez seja ainda possível tocar alguém. Algures…