últimasmag 01


últimasmag, recent work by Fernando Guerra. Click to read.

Últimasmag é uma nova publicação desenhada para a internet, produzida por Fernando Guerra. Uma edição bilingue que destaca, em cada número, uma obra de arquitectura relevante e actual, numa completa apresentação que conjuga esquissos, desenhos, textos críticos e, claro, uma extensa reportagem fotográfica.
A Barriga de um Arquitecto tem o prazer e a honra de apresentar a estreia desta nova publicação web com o seu primeiro número dedicado à Adega Mayor, obra do arquitecto Álvaro Siza em Campo Maior. (clique na capa acima para aceder à publicação integral)

últimasmag 01
Últimasmag is the new online publication produced by Fernando Guerra. A bilingual edition focusing on a relevant work of architecture, each number offering an extensive presentation of drawings, critical texts, building blueprints and, of course, photographs.
The Belly of an Architect is proud to present the first edition of this new online magazine, featuring the Adega Mayor (Mayor Winery) by portuguese architect Álvaro Siza, in Campo Maior.
(click the cover above to access the full publication)







Álvaro Siza – Adega Mayor
Silêncio

Aplicas pedra, madeira, betão, e com estes materiais constróis casas e palácios… Mas subitamente tocas o meu coração… Isso é Arquitectura.
Le Corbusier


A obra de Álvaro Siza revela a eterna perenidade do sentido original da arquitectura e da expressão da existência humana sobre o território. Da procura da verdade em Kahn à expressão material em Wright, tantos o revelaram das qualidades de uma doutrina que se quer além de um mero instrumento da forma ou da função.
Pela precisa linguagem da forma, cor, textura, a arquitectura inscreve-se numa herança mais arcaica. Para fundar na paisagem um lugar institucional, um meio de vida, a marca de uma transcendência que transforma a natureza em cultura.

O registo, por demais enfatizado, da pureza, confunde tantas vezes do essencial. Pois que ao traduzir uma aproximação estilística da arquitectura faz sobrepor uma premeditação autoral sobre a compreensão dos processos que lhe dão forma. Siza sublinha o valor da transitoriedade, qualidade que exprime a maturação própria de quem busca resolver problemas de desenho - onde uma sombra define uma pala, um sentido inscreve uma rampa ou uma vista faz abrir um vão. É um processo laborioso de acumulação e depuração que conduz à construção de uma memória, em arquitectura, de formas sujeitas ao atrito e resistência da terra. Descobre-se assim o seu sentido de reminiscência, de pertença a um sítio e a sua circunstância.

A suave topografia dos campos é atravessada pelo fio de uma pequena estrada. O acesso a um velho depósito escavado em argila assinala o ponto de partida para a nova marca que ali se implanta. O volume deitado de 120 por 40 metros estende-se sobre a curva extensa do solo, dominando o horizonte multicolor dos pés de vinha que preenchem a imensa planície.
O contorno próximo em calçada de granito envolve o embasamento em alvenaria maciça de tijolo tradicional, caiado a branco. Dele se erguem os extensos paramentos, igualmente brancos, de desenvolvimento horizontal do edifício da nova adega.

O topo sudoeste define o portal de chegada aos visitantes, numa elevação que lhe reforça o sentido de hierarquia. Oposto, o topo inverso faz-se ao nível da terra, da jornada de produção que inicia o seu processo de transformação. Na penumbra das entranhas abre-se a longa nave de armazenamento, uma extensa caixa de betão com chão de pedra. Longas traves de madeira desenham linhas longitudinais para o assento das pipas.

Na Adega Mayor, o programa é a narrativa do ritual de maturação da uva, da fermentação ao lento estágio do vinho. No volume vertical localizam-se as funções humanas, num piso intermédio destinado a suporte técnico e administrativo e ainda um piso superior de uso social. Aí se concentram os espaços de apoio turístico e promocional com recepção e prova, que conduzem ao grande terraço superior do edifício. O relvado de cobertura é rasgado por um espelho de água central, em chão de mármore. No mesmo material, bancos paralelipipédicos desenham linhas puras que se conjugam com o painel central.

Um velho mestre escreveu que o sol nunca conheceu a sua beleza até iluminar a face de um edifício; palavras que parecem ressoar desta presença solitária. Um pavilhão vinícola ou um templo reverencial sobre a paisagem, a Adega Mayor de Álvaro Siza é um edifício que define um modo de vida, que vive e se alimenta do circuito das estações sobre os campos que o envolvem. Uma obra perene para dominar o lento labor dos dias de vindima, vibrando ao sol para guardar depois, na sua pele, o azul-cinzento do cair do dia.

O resto é silêncio.



Álvaro Siza Adega Mayor
Silence

“You employ stone, wood, concrete, and with these materials you build homes and palaces… But suddenly you touch my heart… That is Architecture.”
Le Corbusier

The work of Álvaro Siza reveals the perennial sense of architecture and the expression of human existence in the territory. From Kahn’s search for truth to Wright’s material expression, this has been said by many others from the qualities of a desired doctrine over and above that of a mere instrument of form and function.
Through the precise language of form, colour, and texture, architecture forms part of an ancient heritage, which is to establish an institutional space in the landscape, a way of life, a transcendental mark that transforms nature into culture.

No matter how much it is emphasized, the mark of purity is often confused with what is essential, since translating a stylistic approximation of architecture imposes an authorial premeditation on understanding the processes that shape it. Siza stresses the value of transience, a quality that expresses the maturity of one who attempts to resolve problems of design –where a shadow defines shade, direction determines a ramp, a view opens a window. It is a laborious process of accumulation and depuration that leads to the architectural construction of a memory, of forms subject to attrition and resistance from the earth. Thus, one discovers Siza’s sense of reminiscence, of belonging to a place and its conditions.

The thin line of a small road crosses the fields’ gentle topography. Access to an old depository excavated in clay signals the point of departure for a new mark that is being established there. The 120m x 50m volume extends over the extended curve of the ground, dominating the multicoloured horizon of the vineyard that fills the immense plain.

The nearby granite contour of the drive wraps around the solid base of traditional whitewashed brick masonry. Rising from it are the equally white and extensive horizontal overhangs of the new winery.

The south-western end marks the gateway for arriving visitors on a slope that reinforces the sense of hierarchy. Opposite, the other end is at ground level where the production journey starts its process of vinification. In the penumbra of the entrails, a long storage nave opens out, an extensive concrete box with a stone floor. Long wooden beams trace vertical lines for the cask supports.

At the Adega Mayor, the narrative concerns the ripening of grapes and the slow fermentation of wine. Human functions are located in the vertical volume on an intermediate level allocated to technical and administrative support as well as a higher floor for social activities. It is here that spaces for tourism support and promotional services are located, including reception and wine sampling. These spaces lead to the building’s grand upper terrace. The grass roof is interrupted by a central reflecting pool in a marble basin. Parallelepiped benches of the same material trace clean lines that complement the central panel.

An old master once wrote that the sun was not aware of its beauty until it lit the face of a building; such words seem to resonate before this solitary presence. A wine pavilion or a reverential temple on the landscape, Álvaro Siza’s Adega Mayor is a building that defines a way of life, living and sustaining itself from the cycle of seasons around it. A perennial work to govern the slow labour of grape gathering, vibrating in the sun to later soak up the blue grey of sundown.

The rest is silence.




Architecture: Álvaro Siza.
Photography: Fernando Guerra.

8 comentários:

  1. Espectacular!
    Fiquei sem palavras.Alio o meu silencio ao silencio da Paisagem e dou Graças...

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  2. Increíble. Emocionante. No sabría decir si son mejores las fotos de Fernando Guerra o el edificio de Álvaro Siza.

    Gracias por la referencia, Daniel, realmente valiosa. Con tu permiso, la divulgaré también en mi blog: creo que merece la pena que se conozca por la mayor parte posible de gentes amantes de la arquitectura y la fotografía de calidad.

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  3. Caro Daniel,

    O silêncio, enquanto "quinta dimensão da Arquitectura", está esplendorosamente expresso no teu texto, que enuncia na íntegra a presença de A. Siza em toda a sua praxis.
    Muitos parabéns pelo V. "lance" em conjunto!
    Obrigado e cumprimenta
    NMS

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  4. Excelente, como sempre!

    O personagem Fernando nas fotografias também fica muito bem...

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  5. Pois fica o elogio do tipo aqui do lado que continua a aprender.. e sempre a aprender, mais um excelente contributo.
    Ao Fernando e a si Daniel pelo magnifico trabalho.
    Bem Hajam!

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  6. De um não arquitecto que gosta de vir aqui: excelente. gostei especialmente deste post. obrigado.

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  7. Que tipo de pedra utilizou o arq.siza no interior do edifício?

    Caso me possam ajudar, agradecia que deoxssem algum comentário

    Rui

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