Uma casa e dois melões

Enquanto eu andava entretido a reconfigurar o blogue passou por aí uma discussão à volta da revogação do 73/73 (ler ou não Os Arquitectos Invisíveis em Portugal por Bernardo Rodrigues). A luta legítima / acção de lobbying (riscar o que não interessa) dos arquitectos em ver-se legalmente reconhecidos como exclusivos autores de projectos de arquitectura chegou mesmo a gerar polémica, com a ignição de um texto de Manuel Pinheiro na Mão Invisível.
É este tipo de debate que me dá vontade de mergulhar para dentro do template como se o meu blogue fosse um aquário. Não é novidade. Em Portugal temos o patamar daqueles que estão-se pouco borrifando para o que quer que seja. Para esses, o futebol e a tropa das celebridades já são preocupação que chegue. Depois existem aquelas pessoas com gosto pela opinião e dentro dessas a categoria sempre irritante dos chicos-espertos. É nessa onda que navega Manuel Pinheiro (MP). MP, que a julgar pela rajada de entradas que tem lá no blogue é um verdadeiro smart-ass, o que sempre é menos mau que um dumb-ass, não merece um parágrafo da discussão que se gerou à sua volta. Na sua picaretagem intelectual está o mesmo entendimento labrego do que é arquitectura partilhado por grande parte dos portugueses. Isso pode-me chatear, mas bem vistas as coisas, nesse sentido ele está do lado da maioria e é um vencedor.
MP acha que a acção licenciadora dos projectos pelas entidades competentes serve de filtro para analisar o cumprimento dos regulamentos e a dimensão pública da arquitectura que eles produzem. E se calhar tudo bem. Tempos houve em que se vendiam projectos de vivendas à beira da estrada como se fossem melões. Tipo “pronto a construir”. Talvez seja este um ideal de liberalismo. Eu posso achar que o facto de ir ao médico desde puto não me dá o direito de aviar receitas. E presumo que saber ler decretos-lei também não me torna perito em vender pareceres jurídicos. Mas, bem vistas as coisas, e porque não? Isto a vida está cara e o melhor é começar a tornar-me num homem dos sete instrumentos. Quem sabe, talvez isso faça de mim um gestor.

1 comentário:

  1. Daniel, fazes mal ao desprezar dessa maneira a opinião do Manuel Pinheiro. Apesar de discordar com a sua posição, acho que lança pistas importantes. Especialmente no que toca a este paradoxo: se os arquitectos produzem mesmo melhor arquitectura, porque fogem os clientes de nós? A resposta não se fica pelo "é mais barato" apenas. Há, de facto, um problema entre o "mercado" e a classe, e não só com queixumes e alterações à lei que vamos lá. Não é fácil.

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