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Quinta-feira

Um texto do City Of Sound deixou-me a pensar em algo que o Frank Gehry dizia sobre o método utilizado para projectar o Museu Guggenheim de Bilbao. Contava o arquitecto americano que ao utilizar as maquetes para projectar, fazendo modelos a diferentes escalas, alterando, filmando, refazendo, estava a conceber um objecto arquitectónico que não conseguiria criar somente através de um computador. As técnicas que se utilizam para projectar têm repercussão no resultado final, na sua forma e mesmo na sua linguagem.
Dificilmente se poderá pôr em causa a inovação e os benefícios das ferramentas de projecto que os computadores colocaram à nossa disposição. Apesar da sua face mais espectacular, que se reflecte nos modos como hoje se consegue comunicar (e vender) a arquitectura, pela capacidade de “mostrar” ao espectador o produto com uma grande fidelidade, o impacto do computador na arquitectura vai muito para além disto. A optimização de recursos e a capacidade de gerir melhor aquilo que é importante modificou a nossa abordagem de trabalhar e de pensar. Mais do que isso, os computadores permitiram aos arquitectos trabalhar as “formas” da arquitectura e visualizá-las, manipulando-as de maneiras que antes eram impossíveis sequer de imaginar. No entanto, não nos devemos esquecer que outras formas de pensar arquitectura permitem encontrar resultados diversos. Os métodos de projectar como a maquete ou o desenho manual não devem, eu diria mesmo que não podem, ser esquecidos porque nos oferecem processos diferentes de se pensar arquitectura.
O caso do Museu Guggenheim é curioso porque quando a equipa de Gehry alcançou aquilo que julgava ser o resultado final, através de uma maquete, resolveu “digitalizá-la”. Dada a complexidade do objecto que haviam construído, tiveram de encontrar novos métodos de o fazer. Com uma máquina utilizada na medicina para digitalizar pontos num espaço tridimensional (usada na reconstrução óssea), atribuindo coordenadas medidas através de um braço mecânico com um sensor na extremidade, os arquitectos de Gehry transferiram a maquete física para uma nuvem de pontos virtuais no computador, reconstruindo posteriormente a maquete, agora digital. O novo modelo serviu de base ao trabalho de engenharia, para construir o esqueleto estrutural do edifício que dificilmente poderia ser resolvido sem o apoio do computador.
Este casamento de diferentes técnicas é uma demonstração das possíveis complementaridades dos métodos de projectar. Sem preconceitos, o que é necessário é habilidade e inteligência para abordar problemas antigos de formas novas, aquelas que melhor se adequarem ao percurso de projecto que cada um pretender seguir. Porque seja em que milénio for, um bloco e um lápis talvez sejam sempre uma forma rápida e eficaz de se chegar à imaginação.

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